Podemos fazer uso de bebidas fermentadas?

13-06-2013 12:10

Por Gerson kovalczuk e Otoni Bellido Rodrigues Nakai

                       

            No Antigo Testamento, há duas palavras hebraicas traduzidas por “vinho”. A primeira palavra, a mais comum, é yayin, usada 141 vezes no Antigo Testamento para indicar vários tipos de vinho, seja fermentado ou não-fermentado. Observe por exemplo, o texto de Neemias 5:18, que fala “vinho de todas as espécies” (yayin). Isto significa que a palavra hebraica yayin aplica-se (também) a todos os tipos de suco de uva fermentado (Gênesis 9:20,21; 19:32,33; 1 Samuel 25:36,37 ; Provérbios 23:30,31).

             Por outro lado, yayin também se usa com referência ao suco doce, não-fermentado, da uva. Pode referir-se ao suco fresco da uva espremida, conforme aparece em Isaías 16:10; Jeremias 40:10-12; 48:33. Estes versículos dão o respaldo bíblico de que o sumo de uva não-fermentado pode perfeitamente ser chamado de “vinho”, sem que isso indique qualquer disparidade. Em Jeremias 40:10-12, o profeta chama de vinho (yayin), ao suco ainda dentro da uva (ver também Lamentações 2:12).

            A outra palavra hebraica traduzida por “vinho” é tirosh, que significa “vinho novo” ou “vinho da vindima”. Tirosh ocorre 38 vezes no Antigo Testamento; essa palavra nunca se refere à bebida fermentada, mas sempre ao produto não-fermentado da videira, tal como o suco ainda no cacho de uvas (Isaías 65:8), ou o suco doce de uvas recém-colhidas (Deuteronômio 11:14; Provérbios 3:10; Joel 2:24).

            Há ainda a palavra hebraica shekar, geralmente traduzida por “bebida forte”. Aparece 23 vezes no Antigo Testamento. Esta palavra refere-se, mais comumente, a outras bebidas fermentadas, talvez feita de suco de fruta de palmeira, de romã, maçã, ou de tâmara.

            No Novo Testamento a palavra grega “oinos” é utilizada para referir-se ao vinho. Esta palavra pode referir-se a dois tipos bem diferentes do suco de uva: o suco não-fermentado e o suco fermentado. Equivale à mesma maneira da palavra hebraica yayin, do Antigo Testamento.

Assim sendo vejamos

O primeiro milagre de Jesus transformando água em vinho nas bodas de Cana (festa de casamento) em João 2, seria vinho embriagante ou não?

Se aceita a tese que sim, as implicações disto, dadas a seguir, devem ser reconhecidas e também aceitas:

1 - Os convidados do casamento estariam bêbados.

2 - Maria, mãe de Jesus, estaria lastimando a falta de bebida embriagante e estaria pedindo que Jesus fornecesse aos convidados, já embriagados, mais vinho fermentado.

3 - Jesus estaria produzindo, a fim de atender à vontade de sua mãe(v.3), de 600 a 900 litros de vinho embriagante(vv. 6-9) mais do que suficiente para manter todos os convidados totalmente bêbados.

4 - Jesus estaria produzindo esse vinho embriagante como seu primeiríssimo "milagre" a fim de manifestar "a sua glória" (v. 11) e de levar as pessoas a crerem nEle como o Filho justo e santo de Deus.

            Não é possível evitar as implicações supras da tese em questão. Alegar que Jesus produziu e usou vinho alcoólico, não somente ultrapassa os limites das normas exegéticas, como também nos leva a um conflito com os princípios morais embutidos no contexto geral do ensino da Escritura.

            Fica claro que, à luz da natureza de Deus, da justiça de Cristo, da sua amorável solicitude pela humanidade, do bom caráter de Maria, as implicações da posição de que o vinho de Caná estava fermentado são blasfemas. Não se pode adotar uma interpretação que envolva tais afirmações e contradições.

            A única explicação plausível e crível é que o vinho feito por Jesus, a fim de manifestar a sua glória, era o suco puro e não embriagante da uva. Além disso, o "vinho inferior", inicialmente fornecido pela pessoa encarregada das bodas, também com toda probabilidade não era inebriante.

            Qual bebida Jesus usou ao instituir a Ceia do Senhor, seria vinho embriagante ou não?

            Nem Mateus, nem Marcos, nem Lucas, utilizam a plavra “oinos” para descrever a bebida da Ceia. Os três primeiros Evangelhos empregam a expressão “fruto da vide” (Mateus 26:2924; Marcos 14:25; Lucas 22:18). O vinho não-fermentado é o único “fruto da vide” sem fermentação e portanto sem álcool. A fermentação altera o fruto da videira. Vinho fermentado não é fruto da vide; não é produzido pela videira. Jesus instituiu a Ceia do Senhor quando ele e seus discípulos celebravam a Páscoa.

            A lei da Páscoa em Êxodo 12:14-20 proibia, durante a semana daquele evento, a presença de fermento (hebraico seor) ou qualquer agente fermentador tanto no vinho quanto no pão, pois o fermento é o símbolo do pecado nos tempos bíblicos.

            No mundo antigo, o fermento era obtido da espuma da superfície do vinho quando em fermentação. A fermentação simboliza a corrupção e o pecado (Mateus 16:6-12; 1 Coríntios 5:7,8). Jesus, o Filho de Deus, cumpriu a lei em todas as suas exigências (Mateus 5:17). Logo, teria cumprido a lei de Deus para a Páscoa e não teria usado vinho fermentado.

            O sangue puro de Cristo (Salmos 16:10; Atos 2:27; 13:37) jamais poderia ser representado por algo corrompido e fermentado. O fruto da vide, simbolizando o sangue incorruptível de Cristo é melhor representado por suco de uva não-fermentado (1 Pedro 1:18,19).

            Desta forma, fica claro que, diante da natureza Santa e incorruptível de Deus, é inadmissível supor que o cristão, sob qualquer pretexto e em qualquer circunstância possa fazer uso de bebida alcoólica.

            Em resumo, o tipo de vinho usado pelos judeus nos dias da Bíblia não era idêntico ao de hoje. Tratava-se de:

(a) suco de uva recém-espremido;

(b) suco de uva assim conservado;

(c) suco obtido de uva tipo passa;

(d) vinho de uva feito do seu xarope, misturando com água; e

(e) vinho velho, fermentado ou não, diluído em água, numa proporção de até 20 para 1.

            Se o vinho fermentado fosse servido não diluído, isso era indelicadeza, contaminação e não podia ser abençoado pelos rabinos.

            Logo á luz desses fatos, é ilícita a prática corrente de ingestão de bebidas alcoólicas com base no uso do vinho pelos judeus dos tempos bíblicos.

            A afirmação, hoje em dia comum, de que Jesus produziu em seu milagre vinho fermentado ou mesmo que o tenha utilizado na Santa Ceia que instituiu na páscoa, configuram terríveis blasfêmias. Contraria a revelação bíblica contra a perfeita obediência de Cristo a seu Pai celestial, supor que Ele desobedeceu ao mandamento do Pai: “Não olheis para o vinho, quando se mostra vermelho e se escoa suavemente”, isto é, fermentado (Provérbios 23:31).

            Outra passagem bíblica que é largamente explorada por aqueles que defendem o consumo das bebidas alcoólicas, está em 1 Tm 5:23 :

            “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades”.

            Aqueles que defendem o uso da bebida esquecem-se, contudo, de observar o que diz o Apóstolo Paulo no capítulo 3 Versículo 3 da mesma epístola, quando aconselha a Timóteo sobre o comportamento daquele que aspira ao episcopado, uma das qualidades destacadas é que o mesmo seja “não dado ao vinho”.

            É ridícula a afirmação de que o conselho de uso medicinal do vinho dado por Paulo seja desvirtuado para apoiar o consumo de bebidas alcoólicas. Muito pelo contrário, o fato de Paulo precisar recomendar que seu discípulo fizesse uso do vinho e ainda explicar-lhe que tal utilização se daria para fins medicinais indica que Timóteo, homem de Deus versado na Sagrada Escritura e cheio do Espírito Santo de Deus, não utilizava nenhum tipo de vinho.

            As consequências trágicas de tomar vinho fermentado aparecem em vários trechos do Antigo Testamento, notadamente em Provérbios 23:29-35.

            Seja qual for a natureza da bebida, é importante verificarmos que em vários lugares o Antigo Testamento condena o uso de bebidas fermentadas, seja da uva ou de outra fruta qualquer (Levítico 10:9-11; Provérbios 20:1; 23:29-35; 31:4-7).

Fonte: Bíblia de Estudo Pentecostal